Para o pesquisador Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de
Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo, governos e empresas
têm de considerar os riscos à saúde da população na hora de investir
seus recursos. Veja entrevista.
O que falta para que haja
uma maior preocupação com a saúde humana – tanto por parte de empresas
como dos governantes – no contexto dos investimentos que causam impacto
ambiental?
Eu não conheço nenhum político que queira
aumentar a poluição, todos querem reduzi-la. A pergunta é: como fazer
isso? Sob meu ponto de vista, deve-se incorporar os gastos com saúde nos
processos de planejamento e elaboração de determinadas ações que podem
provocar impactos na saúde pública.
No entanto ao fazer um balanço
sobre essa abordagem em políticas públicas, a constatação é terrível:
nada foi realizado nos últimos 30 anos – período em que venho
trabalhando com a temática.
É preciso mostrar que custa caro aos
cofres públicos ter que atender mais pessoas com problemas respiratórios
devido à poluição do ar, por exemplo, e que esse mesmo recurso pode ser
investido no desenvolvimento de tecnologias que permitam a produção de
combustíveis menos danosos ao ambiente e à saúde.
O Laboratório,
por exemplo, desenvolve pesquisas com o objetivo de fornecer informações
sobre quem está produzindo a poluição, seus efeitos e seus custos.
Esses dados fornecem instrumentos para a construção de políticas
públicas com o objetivo de reduzir as emissões de poluente.
Por
isso, acredito que a realização de estudos que mostrem os custos da
ausência de integração entre a agenda do desenvolvimento e a melhoria da
qualidade ambiental se configuram como uma forma de provocar alguma
alteração no atual modelo de crescimento.
A relação que estes estudos devem apontar diz respeito a quanto custa evitar x quanto custa tratar?
Com
certeza. Existe um programa criado pela Organização Mundial de Saúde e
pelo Banco Mundial que segue essa lógica, para que os governos dos
países em desenvolvimento saibam os custos de se realizar determinada
ação em saúde ou não.
Para isto, é necessário computar os dias em
que o indivíduo deixou de “viver” na faixa produtiva e o quanto ele
deixou de contribuir em impostos e de produzir recursos. Este programa é
chamado “Impacto Global da Doença”, e a “moeda” utilizada no processo
de mensuração é o DALY, sigla para Disability Adjusted Life Years (Anos
de Vida Ajustados à Incapacidade).
Se o custo DALY for incorporado
na cidade de São Paulo, chegaremos a 1 bilhão de dólares por ano. Com
esse dinheiro se constrói pelo menos 10 km de metrô por ano.
É possível dizer que com sociedades menos vulneráveis o será o desenvolvimento econômico será maior?
O
fardo da doença em algumas regiões de baixa renda é um desafio
importante para o crescimento econômico. O reforço dos sistemas de saúde
deve ser visto como estratégia de grande potencial para que as
sociedades possam se desenvolver. Com o aumento da prevenção da
morbidade e com tratamento rápido e eficaz de doenças, as pessoas serão
mais saudáveis e poderão produzir com mais qualidade.
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