quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Entrevista Paulo Saldiva sobre saúde e meio-ambiente



Para o pesquisador Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo, governos e empresas têm de considerar os riscos à saúde da população na hora de investir seus recursos. Veja entrevista.

O que falta para que haja uma maior preocupação com a saúde humana – tanto por parte de empresas como dos governantes – no contexto dos investimentos que causam impacto ambiental?
Eu não conheço nenhum político que queira aumentar a poluição, todos querem reduzi-la. A pergunta é: como fazer isso? Sob meu ponto de vista, deve-se incorporar os gastos com saúde nos processos de planejamento e elaboração de determinadas ações que podem provocar impactos na saúde pública.

No entanto ao fazer um balanço sobre essa abordagem em políticas públicas, a constatação é terrível: nada foi realizado nos últimos 30 anos – período em que venho trabalhando com a temática.
É preciso mostrar que custa caro aos cofres públicos ter que atender mais pessoas com problemas respiratórios devido à poluição do ar, por exemplo, e que esse mesmo recurso pode ser investido no desenvolvimento de tecnologias que permitam a produção de combustíveis menos danosos ao ambiente e à saúde.

O Laboratório, por exemplo, desenvolve pesquisas com o objetivo de fornecer informações sobre quem está produzindo a poluição, seus efeitos e seus custos. Esses dados fornecem instrumentos para a construção de políticas públicas com o objetivo de reduzir as emissões de poluente.

Por isso, acredito que a realização de estudos que mostrem os custos da ausência de integração entre a agenda do desenvolvimento e a melhoria da qualidade ambiental se configuram como uma forma de provocar alguma alteração no atual modelo de crescimento.

A relação que estes estudos devem apontar diz respeito a quanto custa evitar x quanto custa tratar?
Com certeza. Existe um programa criado pela Organização Mundial de Saúde e pelo Banco Mundial que segue essa lógica, para que os governos dos países em desenvolvimento saibam os custos de se realizar determinada ação em saúde ou não.

Para isto, é necessário computar os dias em que o indivíduo deixou de “viver” na faixa produtiva e o quanto ele deixou de contribuir em impostos e de produzir recursos. Este programa é chamado “Impacto Global da Doença”, e a “moeda” utilizada no processo de mensuração é o DALY, sigla para Disability Adjusted Life Years (Anos de Vida Ajustados à Incapacidade).

Se o custo DALY for incorporado na cidade de São Paulo, chegaremos a 1 bilhão de dólares por ano. Com esse dinheiro se constrói pelo menos 10 km de metrô por ano.

É possível dizer que com sociedades menos vulneráveis o será o desenvolvimento econômico será maior?
O fardo da doença em algumas regiões de baixa renda é um desafio importante para o crescimento econômico. O reforço dos sistemas de saúde deve ser visto como estratégia de grande potencial para que as sociedades possam se desenvolver. Com o aumento da prevenção da morbidade e com tratamento rápido e eficaz de doenças, as pessoas serão mais saudáveis e poderão produzir com mais qualidade.

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